Fernando Pessoa e SOSSEGO
Sossega, coração! Não desesperes!
Talvez um dia, para além dos dias,
Encontres o que queres porque o queres.
Então, livre de falsas nostalgias,
Atingirás a perfeição de seres.
Mas pobre sonho o que só quer não tê-lo!
Pobre esperança a de existir somente.
Como quem passa a mão pelo cabelo
E em si mesmo se sente diferente
Como faz mal ao sonho o concebê-lo
Sossega, coração, contudo. Dorme!
O sossego não quer razão nem causa.
Quer só a noite plácida e enorme,
A grande, universal, solente pausa
Antes que tudo em tudo se transforme.
Fernando Pessoa em 02-08-1933.
Fernando Antônio Nogueira Pessoa (1888-1935, Lisboa), poeta e escritor português.
*Com carinho à M.O.