HOMENAGEM A UM SER DESPREZÍVEL
Nada cheira pior que goela de um urubu
Nem o gás metano evaporado do lixo
Ou ainda o famigerado odor do nosso intestino
Nada supera o mau cheiro de um corpo apodrecido
Do qual se alimenta o urubu,
Este higienizador da natureza
Tão útil, tão humilde, tão desprezado
A este ente da natureza, mando estes haicus
O urubu não tem preguiça
Apenas aguarda pacientemente
O corpo virar carniça
Do alto do céu o urubu voa
Parece planando à toa
Mas ele vigia os sinais da morte
Quando pousados na árvore seca
Os urubus confabulam
Sobre a descontinuidade da vida
Do alto do galho seco
Os urubus observam as almas
Pobres almas mortais
O silencio de um urubu
Não é casual, é um tributo respeitoso
Á mortalidade dos seres
Você sabia que foi graças ao urubu
Que pintaram a morte e o luto
De preto?