sentada à beira da lareira
não vi o tempo passar...
tresnoitava sozinha em furnas
recendendo recordações de outrora
que se foram c'mo labaredas fugidias
que ao sopro dos ventos viraram cinzas
arrebatando-me numa sofreguidão terrível.
sentada à beira da lareira
teci sonhos, insone no manto do tempo
agora, caquética, esquisita, e inerte,
vicejando através das chamas da memória
c'o semblante triste, enrugado, e disforme
reclusa, neste fim de mundo, a sós...
ora vizinha das montanhas verdejantes
e, das relvas, ressequidas...
sentada, já não sei quem eu sou...
não existe mais esperança e nenhuma artimanha
p'ra revolver o tempo aluído nas toras queimadas
no arrebol das vagas longínquas e perdidas...
sentada, estou, aqui, a esperar...
o último suspiro aos pés da Virgem
implorando em algum momento tecido
nas vozes dos ventos vagidos...
à bendita hora do encontro marcado...
onde entregar-me-ei vestida de branco
p'ra viver eternamente aos pés da Virgem!
no santo altar... pós-vida... consagrado!
-