AS BUNDAS

as bundas são ardilosas ribanceiras

abismos que soçobram o mundo inteiro

as brasileiras de ancas portentosas

botam banca com o seu traseiro

acudí, as bundas do Minho

se adiantem, as d’Alentejo

as magras, gordas ou as bundas lisas

negras ou brancas, sob o vestido

bundas no palco, líricas e cenicas

na alcova, bundas eróticas, telúricas

artísticas, bundas que dançam

com musica de realejo

caminhando pelas ruas do Batustão

as bundas bascas são enervadas

como bombas, não são

pacificas bundas, são de guerra

nas levadas, muito mais duras

do que malemolentes

e inda assim, deslocam palpitações

por sobre toda a terra

tem as que são rombudas, acesas

clareiras na savana, grandes, africanas

e as que só imaginadas, bundas mulçumanas

têm as lineares, retas, as bundas inglesas

quantas lindas mulheres, as hermanas

mulheres belas de ancas tesas

as moças pudibundas nas províncias

em bandas mancas, nas praças

à roda dos coretos, tem seu encanto

no mundo, tantas bundas, quanta ânsia

quantas a me fazer sucumbir

como vate descadeirado do ir-e-vir

a poesia se inspirando na abundancia

Ricardo S Reis
Enviado por Ricardo S Reis em 20/01/2007
Código do texto: T353564