Espírito Livre
Da janela do meu quarto
O Sol desperta meu consciente
Libertando meu corpo do ócio matinal
Estive perdido em sonhos fantasiosos
- Passos que eu não precisava apressar
- Mãos que eu podia apertar
- Semblantes que eu podia encarar
Porém, voltando às sombras desses dias
Que cegam até as mentes mais iluminadas
Pude então sentir em certos momentos
Quão indesejável pode ser a lucidez
Quantos questionamentos
Quantas dúvidas existenciais
Pois eu digo: rejeito vossos medos e conceitos morais
Entrego-me a meus pecados naturais
Carne desprovida de pudor
Àvida na ardência e no frescor
A contemplar e venerar a imensidão do vazio
Tão verdadeiro, sublime,
Evidente e invisível sinônimo de poder
Na escuridão da ignorância
A todos ilude,
A tudo comporta e a tudo abraça
Eis, ó espíritos do cansaço e da decadência
Vede quão vasta distância a separar-vos do Espírito Livre
Aquele que ascende ao cume de glória
E compartilha de onde as águias se aventuram
Quão distante estais vós no subterrâneo
Imersos em calabouços de lama e de mentira
Aprisionados em seculares grilhões de miséria e de cegueira
Amargando na eterna noite, paroxísmica elegia
Eis quele que aceita o milagre da vida
Despido das vestimentas metricamente elaboradas,
Armadura das tortuosas amarras da moral
Exibindo graciosamente a nudez clássica
Expõe a cura de sua doença, suas chagas
E a ausência de morbidez no olhar
Seguindo assim o curso de linear horizonte
Guiado por luminárias da liberdade
[Em memória de Nietzsche]