Dos heterônimos ao ortônimo
Aqui estamos, puramente conscientes de nossa inexistencia
fazendo versos vários e repudiando seus dogmas de ciência
ao pensar com neurônios libertos da carne material que tens
escrevemos uns versos diversos que diferem daqueles feitos
pela tua angustia que quebra estrofes e que carregas no peito
mas nós ainda somos da rima e estrofe um fraquíssimo refem
Você se vangloria de ir nos carregar a toda parte por onde andas
pelo fato de forçadamente nos levar à estranhas lojas e quitandas
mas nós somos quem te entretem quando o tédio da vida o abate
somos tão vivos, alguns de nós, que temos até mesmo duas datas
uma de nascimento e a outra de morte, sendo as duas bem exatas
se não gosta de nós, ora, tú és deus que nos criou: vai e nos mate!
Caros amigos fora de todas as contingências da carne putrescivel
a verdade que tenho a lhes contar é que tal vida me seria horrivel
se eu nunca tivesse a audácia insana de os inventar um belo dia
triunfal era aquele dia, minha cabeça nadava em quimicos legais
mas mesmo assim, aquela mente dopada raciocinava muito mais
do que a maioria dos vãos filosofos do mundo todo raciocinaria
Que me importa que chamem de louco ignorantes que não entendem
a cabeça pensa em coisas oriundas de impulsos que eles não recebem,
vou ouvindo dentro de mim os tons dessas vozes de várias pessoas
algumas constantemente a gemer entre suas dores muito profundas
outras em escritórios claustrofóbicos e outras completas vagabundas
e outra jaz no esquecimento natural: longe de toda essas almas boas
Mesmo que não veja face da qual a mídia se prende: produto de vitrine
ninguém diga a mim que tais pessoas inexistem, que essa’lma peregrine
por nações do mundo sem encontrar quem os entenda completamente
não existindo outras almas como a minha, criei algumas, incompletas
talvez, mas que servem e sempre servirão bem as suas dignas metas
mesmo que as vezes as vozes tragam dores de cabeça nessa mente!
*em digna homenagem a Felipe Redom, Hugo Hevol e Victor Teady: poetas (in)existentes