Valquírias
Diante dos portões da redenção
Contemplando as dúvidas que alimentam meus pecados
Desfrutando da única certeza que me apraz
Convertendo meus erros em instintos naturais
Tenho agora a marca de luzes seculares
Cunhando em sonhos as desérticas areias de minha mente
Tenho agora o desejo do eterno retorno
Um passado de teimosia e ânsia
A todo instante, tornando antiquado o meu presente
Exibo uma beleza póstuma
Que não pode ser admirada nesses dias de espiritual atrofia
Um sentimento de extremo repúdio, abominação
Pela frágil condição que para mim é uma prisão
Todas as palavras queimam nesta noite de histeria
Todas as misérias afloram nessa era de hipocrisia
Uma escolha, uma visão
Uma utopia, um momento de colisão
Dias de glória que se vão
Sangue, insanidade, satisfação
Exércitos inflamados num turbilhão de mil sóis e ilusões
Nos sombrios olhos do estranho ser que meus sonhos invade
Em meu último momento
Corações ardentes num mundo de poeira e esquecimento
O abraço tão esperado dos irmãos que há muito me aguardam
Em meu último momento
Chamas consumindo os frutos da discórdia e da demência
Um adeus às pelejas, clamores e tribulações
Em meu último momento
Fogo insaciável de gloriosa carruagem
Singrando a escuridão de infinitos céus
Seguindo em direção ao templo da eterna espera
Ao som da sinistra e bela melodia
Que suaviza meu ganido de morte
[Em memória de Nietzsche, em homenagem à beleza da natureza perdida]