Manoel de Barros
Entre brincos de palavras e almofadas de bichos ele está, manuelando versos. Saculeja poesia inventada no chão de goiaba e bico de seriemas.
Reinventa palavras e brinca com a criança que habita seus olhos.
Hoje nosso poeta nasce com 95 anos e desejamos sentir aromas de sóis contemporâneos com sua pessoa por muitos anos. Há sonhos de Manoéis impregnados em memórias de barros e seus bichos co-habitantes.
Darci Cunha e eu beijamos este poeta que é nosso norte nas boas maneiras com a palavra.
Feliz aniversário, amigo poeta!
Carmem Lúcia e Darci Cunha
Um pouco de Manoel:
Manoel Wenceslau Leite de Barros nasceu em Cuiabá (MT) no Beco da Marinha, beira do Rio Cuiabá, em 19 de dezembro de 1916, filho de João Venceslau Barros, capataz com influência naquela região. Mudou-se para Corumbá (MS), onde se fixou de tal forma que chegou a ser considerado corumbaense. Atualmente mora em Campo Grande (MS). É advogado, fazendeiro e poeta.
"Exploro os mistérios irracionais dentro de uma toca que chamo 'lugar de ser inútil'. Exploro há 60 anos esses mistérios. Descubro memórias fósseis. Osso de urubu, etc. Faço escavações. Entro às 7 horas, saio ao meio-dia. Anoto coisas em pequenos cadernos de rascunho. Arrumo versos, frases, desenho bonecos. Leio a Bíblia, dicionários, às vezes percorro séculos para descobrir o primeiro esgar de uma palavra. E gosto de ouvir e ler "Vozes da Origem". Gosto de coisas que começam assim: "Antigamente, o tatu era gente e namorou a mulher de outro homem". Está no livro "Vozes da Origem", da antropóloga Betty Mindlin. Essas leituras me ajudam a explorar os mistérios irracionais. Não uso computador para escrever. Sou metido. Sempre acho que na ponta de meu lápis tem um nascimento."
"Aliás, não tenho mais nada, dei tudo para os filhos. Não sei guiar carro, vivo de mesada, sou um dependente", fala. Os rios começam a dormir pela orla, vaga-lumes driblam a treva. Meu olho ganhou dejetos, vou nascendo do meu vazio, só narro meus nascimentos. "Noventa por cento do que escrevo é invenção. Só dez por cento é mentira".