Pobres Olhos de Chuva

(à G.S., in memoriam, nesta véspera de Natal

em doce e muito amada lembrança)

Teus braços desmaiados

sobre a mesa.

Obras desconhecidas

como agulhas,

te inflamam.

Pesam-te os anos,

transparecem lembranças

no verde musgo de tuas carnes

e flutua teu espírito

sobre a mansa marcha

da tarde.

É aqui

que pelas coisas mais simples

fomos ungidos.

E escapamos de todas as armadilhas

convertendo, misteriosamente,

nossas artérias

em trilhas.

E nos crepúsculos

temos sede de estrelas,

de árvores meninas

e de chuva bela.

Sim...

agora somos infinitamente pobres

de pequenos jardins

onde reencontramos

a outra face da felicidade

que, mesmo com medo,

um dia, ousamos.

(Direitos autorais reservados).

Lúcia Constantino
Enviado por Lúcia Constantino em 24/12/2006
Reeditado em 03/06/2011
Código do texto: T326612
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