Pobres Olhos de Chuva
(à G.S., in memoriam, nesta véspera de Natal
em doce e muito amada lembrança)
Teus braços desmaiados
sobre a mesa.
Obras desconhecidas
como agulhas,
te inflamam.
Pesam-te os anos,
transparecem lembranças
no verde musgo de tuas carnes
e flutua teu espírito
sobre a mansa marcha
da tarde.
É aqui
que pelas coisas mais simples
fomos ungidos.
E escapamos de todas as armadilhas
convertendo, misteriosamente,
nossas artérias
em trilhas.
E nos crepúsculos
temos sede de estrelas,
de árvores meninas
e de chuva bela.
Sim...
agora somos infinitamente pobres
de pequenos jardins
onde reencontramos
a outra face da felicidade
que, mesmo com medo,
um dia, ousamos.
(Direitos autorais reservados).