A memória dum cavalo morto...

Frustrou-me a alma

a fisionomia parda e encardida,

dum cavalo

de porte médio,

às crinas tostadas,

e um sinal

a baixo do escroto esquerdo,

corroído

por uma antiga chaga

malígna.

Decerto,

há tantos anos

Carregara a pouse de meu pai,

a galopar

os verdes campos de outrora!...

Deixara avulso,

teu legado esfaimado:

-os francos louros,

de eterna postura e fortaleza!

A meu pai,

- destes a imagem às tranças,

um gigante aventureiro!...

Ao chão inerme

do necrotério,

os pétreos fungos,

esfomiam-no,

deploram-no

as carnes tão desgarradas!

A vastidão infinita

da cosmogonia do abandono;

Vossa ossada,

embevecida

pelos ares do composto orgânico,

Diluía-se

a trêmula luz dos astros.

A gravidade das pulgas,

Que se,

a ganância imortal vos iluda,

A razão

mortalmente ferida,

Revida ao seu próprio pó.

Restam-te,

os companheiros inseparáveis:

A sombra torta de um pé de mufumbo ;

uma cerca de pedra comprida,

E a frágil

lembrança

torturada

pela areia branca

e solitária de Timbaúba!...

Pombal, 24/ 07/2010.

Jairo Araújo Alves
Enviado por Jairo Araújo Alves em 25/09/2011
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