Poema de merda por Genet

De calças curtas

com o cu na mão

vai o menino em círculos

rumo à estação que não chega nunca.

Tomar e perder o trem

guardam a mesma distância

da viagem que nunca acontece.

Cu do mundo,

Cu de todos.

De ninguém por isso!

Oco do mundo

de sonhos perdidos,

desejos fixos de revoluções traídas,

por natureza, sempre.

Poço de desejos e traições.

Cu do mundo,

Cu de todos.

De ninguém por isso!

Buraco sem fim

que cruza o mundo

dos lavadores

dos catadores

dos pedintes

dos vadios

dos loucos

dos encarcerados.

Cu do mundo,

Cu de todos.

De ninguém por isso!

Cresceu o menino

na vida sem eira nem beira

feito cão vadio de feira

encontrado por peidos pútridos da fome.

Cu do mundo,

Cu de todos.

De ninguém por isso!

Amores estrangulados

Sangue e merda fresca

Cu do mundo,

Cu de todos.

De ninguém por isso!