Passagem Pra São Paulo
O calor não me dá sono, sono quieto e ressonante.
Sonho com um dia frio, muito frio de agasalho.
Aquele tempo meio sombrio, talvez entre garoas paulistanas.
Um meio jeito de querer subir ao bexiga.
Andar de bar em bar, encontrar um lindo violão e uma bela canção.
De repente, o frio encolhe os ombros e abre os olhos:
o cantor canta para mim, só para mim e para quem me acompanha.
O frio tem dessas coisas surpreendentes:
aproxima-nos de outros em busca do calor.
E a canção? O músico desafia num instante
e ela paira uma vida inteirinha por dentro da gente.
Essa melodia que entrelaça mãos, olhos,
une corpos entre lençóis translúcidos, transparentes;
desperta saudades, lágrimas, suores e emoções.
Não, não que o Rio de Janeiro não seja lindo.
Não, não que não seja bom demais ser tropical.
Mas, que lindo é o clima molhado de São Paulo...
Alado, avoado, pestanejado!
Cheio de nós ao lado de nós!
Multidão em trabalhos, em protestos, em amores, em bares, em festas, em réstias, em pestes, em cristais, em molambos!
O clima tropical de milhares de cidadezinhas brasileiras
deveria verdejar férias nessa metrópole e aprender a navegar
pelas ruas na soltura das mãos dadas.
Olha! Olha! Que linda a chuvinha fininha de Sampa!
Bamba! Samba-canção! Ritmo e história na mão.