A CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE - Poema escrito há 24 anos, em 17 de agosto de 1987, no dia de sua morte
Como falar do Poeta
sem comércio com as palavras
se a condição de sua vida
foi lapidar essas pedras
na incessante batalha
que é a de todos os Poetas?
Manter as portas abertas
para as astúcias do verbo
e para os seus labirintos
desistências
retomadas
de Dédalo em sua trilha
sapiência
no ofício diário
a serviço de outro reino
que não o das pervertidas
palavras
essas, que invertem a vida.
Mineiro de rudes minas
abelha do mel mais puro
como expressar o momento
de passagem do teu ser
se no cerne do silêncio
é que o amor melhor se apura?
Coração lúcido e louco
-igual ao daquele outro –
senhor de suas batalhas
De que grande amor amaste
e com que ternura oblíqua
à semelhança de Minas?
De que grande amor partiste
em busca da bem-amada
Julieta
a filha que te aguarda
no país sem nome?
(Que desafio, Poeta,
o de um país sem nome!)
Ah, frágil coração materno
no teu peito de homem!
Cessou o Canto
de voz viva
mas fica o Verbo
mas fica o Ritmo
gerando mundos
assim como as estrelas.
Em 17 de agosto de 1987