Rogo
Ceifeiro meu,
De mãos calosas, corpo curvado pela lida,
Pele gretada... murcha rosa,
Acabou-se o sonho teu!
Tua foice encantada
Que dava vida quando na degola,
Quedou e esquecida tem estado,
Sem tuas mãos férreas,
Desenhistas mágicas
Que não mais imolam.
Teus olhos cerraram-se,
Sem o pulsar dos sonhos
De amanhã.
Teu corpo hirto e ereto
Como sempre fora
Percebe-se terrivelmente deitado,
Sem nenhum cansaço
No rosto flácido... na boca calada.
Agora,
No pó em que te escondem,
Nenhuma vida mais haja,
Até que o último
Deste cortejo viva ou aja.
Que a sentença se dê a todos
_Que o suor desses rostos
Baços e fingidos
Pela dor seja ungido
A cada manhã,
A cada colheita
Em que não se perceba a graça
Da tua essência que passa,
Dobrando hastes
E hóstias do trigo
Que nos alimenta.