Rogo

Ceifeiro meu,

De mãos calosas, corpo curvado pela lida,

Pele gretada... murcha rosa,

Acabou-se o sonho teu!

Tua foice encantada

Que dava vida quando na degola,

Quedou e esquecida tem estado,

Sem tuas mãos férreas,

Desenhistas mágicas

Que não mais imolam.

Teus olhos cerraram-se,

Sem o pulsar dos sonhos

De amanhã.

Teu corpo hirto e ereto

Como sempre fora

Percebe-se terrivelmente deitado,

Sem nenhum cansaço

No rosto flácido... na boca calada.

Agora,

No pó em que te escondem,

Nenhuma vida mais haja,

Até que o último

Deste cortejo viva ou aja.

Que a sentença se dê a todos

_Que o suor desses rostos

Baços e fingidos

Pela dor seja ungido

A cada manhã,

A cada colheita

Em que não se perceba a graça

Da tua essência que passa,

Dobrando hastes

E hóstias do trigo

Que nos alimenta.

Paulo Pazz
Enviado por Paulo Pazz em 14/08/2011
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