Memórias Vivas

a Angelo Riccell Piovischini

Eu vi o poeta desnudando-se da vergonha

e rasurar o poema – página em conflito!

Eu vi o poeta ainda menino, o poeta amigo,

homem-macho-escracho-bicho-bicha,

catando palavras belas, incultas, execráveis à mão cheia.

Vi o poeta revirar o lixo e a luxúria,

beber a própria bílis quando finda a boemia.

Eu vi o poeta masturbando o Narciso de si

com seus dedos e línguas múltiplas.

Vi o poeta soletrando as horas

na fumaça do seu cigarro de palha.

Vi o poeta fazer surgir um Novo Horizonte

a cada piscar de olhos seus.

Vi o mesmo poeta semeando

em terras Queimadas.

Eu vi as lágrimas alegres

e o sorriso triste desse pierrô-poeta.

E vi o poeta, anjo renegado,

prostrar-se ao único deus qu’ ele venera:

o Tempo.

Ivana Oliveira, 05 de agosto de 2011.

Ivanita
Enviado por Ivanita em 09/08/2011
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