Ao grande Machado

Nas páginas que tem corrido minhas iris orbitais

nenhuma prosa que eu tenho lido tem valor mais

que todas as magnificíssimas estórias de Machado

racionalizaste por completo a minha psiquê humana

sem nenhum perfeccionismo romântico que engana

meu cerebro que deseja arduamente ser iluminado

Na desgraça das fomes e na bonança do dinheiro

procurei minha vida inteira pelo amor verdadeiro

talvez quem sabe a amizade que valha meu trovar

mas eis que chegam aqueles obliquos olhos de menina

tão maritmos quanto a iris impenetráveis de Capitulina

lá vem chegando o sorisso dúbio de outro Escobar

Imagino a grande loucura que deve ter sido

ao lapis as tão váriadas farsas teatrais regido

com as ameaças constantes de uma epilepsia

que, no brilhantismo que lidas com a platéia

vai obstruindo o fluxo sinóptico da sua idéia

num chacoalho das convulsões de catalepsia

Sei que parece falso, mas lhe agradeço com todo coração

as dores estranhas dos sarcasmos que brotam de sua mão

com todos os seus dedos calmos, sem sinal de ansiedade

descascando este sorriso instantaneo que sempre mostro

para ir ver a face animalesca da minha forma de monstro

enquanto eu ouço quebrar um vidro temperado pela idade

Volto ao meu empirismo lógico de criança, chorando e com medo

tú dizes: “calma, eu tambêm tenho usado outros como brinquedo”

com braços abertos vêns e recebes esta minha singular aberração

naquele bravo momento, pelo inegável instinto de sobrevivencia

sai um suspiro rarissimo de alivio dos pulmões, pois tive ciência

que não havia nem sequer um plano maléfico da faca na sua mão

O que apalpei, ao invéz da esperada lâmina frigida de aço

foi uma enorme chaga sua, o sangue rubro ja tinha secado

“percebes poeta, o quanto a sociedade tens me esfaquiado?”

Nunca mais me esqueçerei o quanto chorei naquele abraço!

Talvez morra, desamparado mais uma vez

sem ter escrito as minhas tristes memórias

da sensação totalmente fútil dessas glórias

como admitiu Brás Cubas, notável burguês

Ou por sorte minha, a razão veja seu crepusculo

como tens ocorrido com o caro Quincas Borba

ao largar a grande humanidade em sua soberba

para encenar o metafisicismo do óvulo minúsculo

* dedicado ao maior escritor de nossas letras, Machado de Assis.

Ernani Blackheart
Enviado por Ernani Blackheart em 04/06/2011
Código do texto: T3013749
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