RETRATO NOSTÁLGICO
A casa de Sá Jovem
era mais simples
que a própria simplicidade.
Era um barraco
nos fundos da casa de alguém.
para ir lá passava-se
em um estreito corredor.
Passava-se por um cão policial
que latia feito
como cão algum latia.
Doía os ouvidos aquele latido.
O estômago doía de medo
do enorme cão.
No casebre havia quarto,
sala e banheiro.
Na sala, um cristaleira
que guardava bibelôs
de cerâmica e papel.
Não havia cristal algum.
Havia só amor
naquele lugar
como nunca houve
na casa de ninguém.
Um dia chegou a notícia:
Sá Jovem deitou-se
para descansar à tarde e dormiu.
Dormiu para acordar
no Palácio de Deus.
Apanhei então um botão
na roseira e coloquei no copo
Nadir Figueiredo.
Minhas lágrimas
que chorei tanto
o encheram
e o botão desabrochou
em rosado encarnado.
Eu nunca deixei na memória
este quadro abandonado.
L.L. Bcena, 10/06/2010
POEMA 200 – CADERNO: CHEGADA NO PORTO.