TECENDO UMA LINGUAGEM
TECENDO UMA LINGUAGEM
(Goulart Gomes, parafraseando João Cabral)
Um poetrix sozinho não tece uma linguagem:
ele precisará sempre de outros poetrix.
De um que apanhe esse grito
e o lance a outro; de um outro duplix
que apanhe o grito que um poetrix antes
e o lance a outro; e de outros triplix
que com muitos outros poetrix se cruzem
os fios de sol de seus gritos de poetrix,
para que a manhã, desde uma teia tênue,
se vá tecendo, entre todos os multiplix.
E se encorpando em estilo, entre todos,
se erguendo gênero, onde entrem todos,
se multiplixando para todos, no toldo
(a poesia) que plana livre de armação.
A poesia toldo de um tecido tão aéreo
que, tecido, se eleva por si: inspiração.