RIO SÃO SÃO DOMINGOS

R I O S Ã O D O M I N G O S

(Em 1983 construiram uma Usina Hidroelétrica nele. Acabaram com uma maravilha que a natureza jamais reporá. Esta poesia é uma ínfima homenagem a tão lindo Rio, no norte do Estado de Goiás. Escrita antes da barragem)

Suas nascentes estão na serra geral

Divisa com a Bahia

Corre por areias finas e brancas

Sempre... de janeiro a dezembro

Que o sol queime do nascer ao ocaso!

Que chova a cântaros!

Suas águas estão sempre límpidas e tépidas

De tão limpas não existem peixes

Começam entre capins como arroios

Aos poucos passam a regatos rápidos

Depois em córregos perenes

Avolumam-se tornando ribeirões

Confluem no caudaloso Rio São Domingos

Mais além passa a ser o Paranã

Nele não há lama nem lodo

O fundo do seu leito é sempre visível

H2O potável e banhável

Onde nadar é divino!

Mergulhar é inenarrável

Só olhar é um sonho!

Às suas margens viceja uma flora variada

Entre as palmeiras o glorioso buriti

Menos abundante o delicioso palmito

Nas encostas as saborosas guarirobas

Além dos barrancos os amargosos catulés

Saindo das vazantes aparece o cerrado

Com paineiras de cachos de flores rosa

Os centenários e frondosos pequizeiros

Retorcidos e mirrados cajueiros, mas frutíferos

E as exóticas cagaiteiras, mangabeiras, puçás...

Por entre tantas moitas e árvores

Destacam-se os lírios

Há os vermelhos de sangue vivo

Os amarelos feitos gema de ovo

E os brancos como lã de algodão

Entremeados nos afloramentos calcáreos

Estão os cactus difundidos em muitas espécies

A perigosíssima coroa de cristo

A não menos perigosa taça do graal

Os traiçoeiros urticantes cansanções

E as inofensivas e viçosas palmas

Se saciando nas suas águas uma rica fauna

As grandes serpentes como o sucuri

As cobras venenosas como o cascavel

Os insetos peçonhentos como a caranguejeira

Os animais herbívoros como veados e mocós

Os domésticos: bovinos, caprinos, muares...

Há ainda as aves pernaltas como a ema

As belas e raras araras amarelas

Ao longo do seu percurso vários lajedos

Alguns o interrompem formando poços

Outros o fazem deslizar tipo tobogã

Como também os que fazem cachoeiras

Não esquecer as cavernas nos rochedos

É um rio de vigor

Segue a correnteza rumorejante

De água transparente, apesar de profundo

Fertilizando plantações e matando sede

Depois de cada monte uma colina

No meio desta um afluente

É vigiado de perto pelo morro do moleque

Serpenteia pela planície

Separa a cidade do cemitério

Na sua coragem de rio selvagem vai

Inusitado entra por serra adentro

Depois renasce com outro nome

Na sua sapiência segue o rio

A nós ignorantes cabe irmos com ele

(junho/1982)

Aleixenko
Enviado por Aleixenko em 24/05/2011
Reeditado em 24/05/2011
Código do texto: T2989599
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