Cruz do pé da serra
Veja a cruz tão pequenina
No pé daquela serra,
Ás sombras de um cajueiro,
Naquela saliência de terra.
Tão velha e abandonada,
Ainda permanece em pé,
Foi feita de jacarandá
Pr'a um caboclo chamado Zé.
Zé do Prado era um caboclo,
Forte, boa gente e destemido
Em quantos fandangos estivemos,
Pobre Zé, era tão meu amigo!
Vinha descendo a serra
Numa tarde bem tranquila,
Derrepente... ví estendido,
Zé do Prado lá da vila.
Num galope bem rápido,
Fui de encontro ao caboclo,
Apiei do cavalo depressa,
O Zé encontrei quase morto.
Ainda restava-lhe vida
Disse-me: "Vinha como um raio
No lombo de meu alazão,
Num pega com o touro balaio".
Fez uma pausa, olhei-o fixamente
Sangue jorrava do peito amigo.
Ele continuou:"O touro é teimoso
E corre como do rifle um tiro".
Disse-lhe: "Levanta-te irmão
Força! vamos depressa à vila,
Amigo perdeste muito sangue,
Porém, chegará lá com vida".
Continuou:"Meu cavalo tropeçou
Jogando-me bruscamente ao chão,
Meu peito batí contra um tõco,
Ai amigo, não tenho cura não...
Mas, antes faço-lhe um pedido
Me enterre no pé desta serra,
Às sombras de meu cajeiro
Nesta amada e querida terra".
Entre dores gemia o caboclo,
Depois, faleceu em meus braços,
Perdemos o peão de boiadeiro
No outro dia enterramos Zé do Prado.
E lá se foi o bom companheiro
Sem tempo de dizer adeus ao luar
Já não ouço o berrante temoso,
Nos confins do sertão a tocar.
Zé do Prado tão cedo partiu
Era amado por todo o sertão,
Montava em burros bravos,
Nos rodeios de Boqueirão.
Chorou seu cachorro trigueiro,
Chorou a baiada inteirinha,
Acabou-se o canto da viola,
Foi-se o rei das modinhas.
Muitos anos se passaram
Vejo a cruzinha no monte,
Na terrinha, no coração do caboclo
Onde ele repousa eternamente.
Descanse caboclo entre as relvas
Entre a natureza tão bonita,
Sob as verdes folhas do cajueiro,
Onde está o colibri que espreita.