Sofia
Não tenho em vida senão uma alegria,
De sonhar com a tua pálida imagem,
E lembrar-me de ti! Minha doce Sofia,
Na ilusão de uma venturosa miragem,
No entanto, quisera Deus à noitinha,
Sussurrar ao teu ouvido uma canção,
Juntar a tua mão entre a minha,
E sentir o palpitar do seu coração!
Pobre de mim que sonho contigo,
Com teus lábios sedosos de maciez,
No devaneio de tornar-me o abrigo,
Em horas mortas de suave palidez!
Mas se atua voz fosse à cavatina
Que ao por do sol a melodia finda,
Sofia tu serias essa eterna menina,
Com a face embevecida e linda!
Meu anjo, se ao menos o teu olhar,
Ao meu viesse em suave devaneio,
Sentiria em meu peito o amor brotar,
Na febre delirante deste santo enleio,
Porém me perdoe, se meu verso e rima,
São como da lira uma breve fantasia,
Queria mudar senão a minha vil sina,
E falar-te do ardor em leve cantoria.
Sonho contigo! No alvor da penitência,
Que a nódoa em angústia se consome,
E no brilho de teu olhar de inocência,
No silencio noturno chamo teu nome!
Sofia! Torna-te o sol do meu dia,
O piar das aves ao nascer da alvorada,
Daí a mim a glória mesmo que tardia,
De tornar-se a virgem santa enamorada...
Não chores meu anjo, que o teu viver,
Alegra-me o peito em insólita jornada,
Pois das cinzas do derradeiro doer,
Haverás de ser do poeta a mulher amada.
Quisera Deus, que na tua fronte alva,
Cintilasse a constelação do infinito,
Em tua solidão ser a estrela d’alva,
A espelhar o teu rosto tão bonito!...
Leve nestes versos um intenso fervor,
Que das cinzas fez espelhar tua miragem,
Creia que na solidão todo o meu amor,
Dou-te na forma desta pequena homenagem