Outono:Variações em torno de um tema
Essas duas poesias, que fazem parte de "Humanos, humano demais", edição de Outono(Agiraldo),foram editadas no Jornal Ecos da Literatura Lusófona/ 25 de Novembro de 2005 - Edição N°29 (http://www.jornalecos.net/poema5.htm), com os versos encadeados, como Poesia em Prosa,talvez por eu haver enviado nocorpo do e-mail, onde a formatação original se desconfigura...Gostei dessa apresentação e a transcrevo aqui:
1)Apelo Veemente
Na pele, no cheiro, num fio estendido no ar, entre seres, entre serras, o re/conhecimento da ternura antiga, do toque, do suor, do perfume, do banho, do enlevo amoroso... Quem terá iniciado o crochet finíssimo, o bordado latente, a trama entretecida no tear do Tempo? Quando tudo começou, em que Terra, em que espaços da eternidade o labirinto de estrelas se enroscou? Onde terá sido escrito o enredo do nosso Amor, que enredado em sua própria teia, acabou mal começou e começara tão intenso, parecendo uma continuidade de sonhos já vividos e acontecências já vividas? Castigo de carma? Por que não voltas e vens reescrever comigo, protagonistas enredados pelos pés, pelas mãos , pelas almas, essa historieta que podemos retransformar?... Vê: é outono e embora a Primavera tenha adormecido para voltar, ciclicamente, é na promessa do fruto que a flor freme, olorosa, a pressentir o milagre da Criação...
2) Lembranças e RENDAS-DE-BILRO
Hoje , sob a luz dourada do outono, dobro peças de enxoval... Tenho então a sensação de que vejo cenas adoráveis, bilros numa almofada levemente se entrechocam, sons pequenos de madeira: borlas... Bordadeiras a bordar rápidas, sem poder parar. pois urge a entrega da encomenda feita... Doem os olhos, as costas, os dedos, mas a paciência é infinda, herdada, mas também treinada... O desenho segue a cuidadosa trama... Depois, a renda de bilros, orgulhosa, enfeitará a camisola-do dia, a toalha do altar, a blusa da moça-velha, a gola da doce-avó... Exibida a todos os olhares, elogiada, a memória da renda terá saudades da artesã que pacientemente se desgastou para que fosse apresentada ao mundo... Em breve, o inverno, por isso guardo estas leves peças para uso no ano que vem... Eu própria, no outono da Vida, devo guardar relembrares das primeiras vezes em que minhas mãos pequenas, leves e lisas desdobraram cada uma e houve um momento em que a mancha olorosa da fruta, do fruto, marcou para sempre o fresco lençol de linho...
Agora, minhas mãos outonais trazem pequenos sinais da idade mas ainda tremem, num "frisson" de alegria pela descoberta do prazer...
Essas duas poesias, que fazem parte de "Humanos, humano demais", edição de Outono(Agiraldo),foram editadas no Jornal Ecos da Literatura Lusófona/ 25 de Novembro de 2005 - Edição N°29 (http://www.jornalecos.net/poema5.htm), com os versos encadeados, como Poesia em Prosa,talvez por eu haver enviado nocorpo do e-mail, onde a formatação original se desconfigura...Gostei dessa apresentação e a transcrevo aqui:
1)Apelo Veemente
Na pele, no cheiro, num fio estendido no ar, entre seres, entre serras, o re/conhecimento da ternura antiga, do toque, do suor, do perfume, do banho, do enlevo amoroso... Quem terá iniciado o crochet finíssimo, o bordado latente, a trama entretecida no tear do Tempo? Quando tudo começou, em que Terra, em que espaços da eternidade o labirinto de estrelas se enroscou? Onde terá sido escrito o enredo do nosso Amor, que enredado em sua própria teia, acabou mal começou e começara tão intenso, parecendo uma continuidade de sonhos já vividos e acontecências já vividas? Castigo de carma? Por que não voltas e vens reescrever comigo, protagonistas enredados pelos pés, pelas mãos , pelas almas, essa historieta que podemos retransformar?... Vê: é outono e embora a Primavera tenha adormecido para voltar, ciclicamente, é na promessa do fruto que a flor freme, olorosa, a pressentir o milagre da Criação...
2) Lembranças e RENDAS-DE-BILRO
Hoje , sob a luz dourada do outono, dobro peças de enxoval... Tenho então a sensação de que vejo cenas adoráveis, bilros numa almofada levemente se entrechocam, sons pequenos de madeira: borlas... Bordadeiras a bordar rápidas, sem poder parar. pois urge a entrega da encomenda feita... Doem os olhos, as costas, os dedos, mas a paciência é infinda, herdada, mas também treinada... O desenho segue a cuidadosa trama... Depois, a renda de bilros, orgulhosa, enfeitará a camisola-do dia, a toalha do altar, a blusa da moça-velha, a gola da doce-avó... Exibida a todos os olhares, elogiada, a memória da renda terá saudades da artesã que pacientemente se desgastou para que fosse apresentada ao mundo... Em breve, o inverno, por isso guardo estas leves peças para uso no ano que vem... Eu própria, no outono da Vida, devo guardar relembrares das primeiras vezes em que minhas mãos pequenas, leves e lisas desdobraram cada uma e houve um momento em que a mancha olorosa da fruta, do fruto, marcou para sempre o fresco lençol de linho...
Agora, minhas mãos outonais trazem pequenos sinais da idade mas ainda tremem, num "frisson" de alegria pela descoberta do prazer...