José de Drummond
É agora José!
a festa começou,
a luz acendeu,
o povo chegou,
a noite esquentou,
é agora José!
você que tem nome,
que elogia os outros,
você que não tem versos,
que não ama, nem protesta,
é agora José!
Está com mulher,
está com carinho,
está com discurso,
já pode beber.
Já pode fumar,
cuspir você pode.
a noite esquentou,
o dia já veio,
o bonde já veio,
o riso já veio,
e veio a utopia
e tudo recomeçou
e tudo apareceu
e tudo renovou,
é agora José!
Sua amarga palavra,
seu instante de festa,
sua fome e desjejum,
sua videoteca,
clava de pinho,
seu manto em vinho,
sua coerência,
seu amor-é agora!
Sem a chave na mão
sabe abrir a porta,
pois existe porta;
quer banhar-se no mar,
mas o mar encheu;
quer ir para Pernambuco,
Pernambuco é demais.
José é agora!
Se você calasse,
se você cantasse,
se você dançasse
o frevo recifense,
se você acordasse,
se você não cansasse,
se você não morresse,
mas você também morre,
você é humano José!
Acompanhado de dia
qual proletário nato,
com genealogia,
com a praça toda
para descansar,
com cavalo branco
que chega a galope
você, cavalga José!
José, vai aonde quer.
Você cavalga José, José vai aonde quer,
cavalga José, José para onde quer.
José para aonde quer,
para onde quer.
Dedicada ao ilustre escritor, poeta, contista e cronista:
Carlos Drummond de Andrade