CARTA PARA RUI
Era uma vez
um amigo, desses que muita gente tem,
de todas as horas, sempre ao lado
- um amigo dedicado –
Era assim,
Eu tinha um amigo e ele era bem assim,
mas tinha qualquer coisa de errado
- meio que desajustado –
Tinha bom senso de humor,
um tanto sonhador,
o olhar dividido
- que eu nunca entendi –
Tinha um jeito carente,
uma angústia latente
por qualquer motivo
- que eu nunca descobri –
Como se algo faltasse
e o desorientasse, sem que ele quisesse
Como se alguém o chamasse,
se alguém o tirasse de onde estivesse
- e nunca era ali –
Era uma vez
um amigo, desses que você tem talvez,
e perde, mundo afora, põe de lado
- um amigo dedicado –
Era assim
Eu tinha uma amigo e fiz com ele bem assim
Pois tinha qualquer coisa de errado
- meio que desajustado –
Algumas cartas mandava
e sempre me cobrava
que eu não respondia
- eu nunca escrevi –
Só eu sei como lamento
não ter tido tempo
de ouvir o que dizia
- eu nunca pressenti –
Um dia tive notícia:
ajustou-se ao seu modo, o meu pobre amigo
e, dentre as suas relíquias,
na foto, um passado que eu tinha esquecido
- e nunca mais o vi –
E foi assim:
esta é a história de um amigo que perdi
que tinha qualquer coisa errada
- mas pra sempre ajustada –
“Bastava uma só palavra “