Carlos, meu caro poeta.
Caro poeta, estamos no verão.
E nossa capital já não é mais a mesma
A Avenida Afonso Pena
Está cada vez mais despenada de árvores
Que quem viu e agora vê, sente pena.
As casas que espiavam os homens
Que corriam atrás das mulheres,
Cederam lugar para imensos edifícios comerciais.
E a tarde talvez fosse azul,
Não houvesse tantas ambições monetárias.
O bonde já não passa mais,
Mas as pernas brancas pretas amarelas sim.
“Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração.
Porém meus olhos
não perguntam nada.”
O ar de poesia que d´antes assolava as praças
E jardins da cidade,
Deu lugar ao gás carbono.
Ah, Carlos! Já não se fazem poemas
Como no seu tempo.
“Mundo mundo vasto mundo,
Mesmo se chamasse Raimundo
Seria uma rima, não uma solução.”
Imundo mundo devastado mundo.
Mesmo se chamasse Sigmund
Seria uma rima, não uma explicação.
Meu caro poeta,
Mas ainda há a lua
E a Serra do Curral Del Rey.
E uma flor - quem sabe? –
Ainda pode brotar no asfalto.