Bordados da vida
Comecei cedo a bordar
Com fina agulha e linha
E mostrava envaidecida
Essa minha obra-prima
Eram pequenos retalhos
Ponto cruz o preferido
E entre sonhos e pontos
Comecei cedo a cruzar
Os pontos da minha vida
Nasciam pontos perfeitos
De cores vivas luminosas
Era um lírio, uma rosa
Banhada de ternura generosa
Ou chorando retalhava
Minha obra esmerada
Tinham-se cruzado pontos
Defeituosos e azarentos
Tornando o bordado imperfeito
E logo o eliminava
Sentindo uma dor na alma
Mas a vida me ensinou
E as voltas se foram alternando
Actuava com mais brandura
Gloriava-me com o primor
dos cruzamentos perfeitos
e anulava serena
as laçadas que não tinham jeito
tranquilamente e com doçura
desfazia o ponto imperfeito
os agravos pungidos
escondia-os no coração
feitos em cruz e na cruz
duma vida atravessada
com afectos enlaçados
sombreando pétalas de rosas
e outros tão arruinados
feitos de iras raivosas
de tta
10-11-10