IDÍLIO AMOROSO

Que seria deste mundo incerto
sem a branda luz da tua presença?
Desespero, tortura: um deserto,
tão vil, tão vazio! Que cruel sentença!

E em tudo, artificial vida
desprovida de todo o sentido - 
eu buscando no vácuo, abatida,
de todo o teu ser, o fascínio escondido...

Mil semblantes mortos de expressão...
Vozes mudas nesta imensidão...
Teu olhar profundo, envolvente;
ouço na minha alma tua voz grave, ardente...

Busco o bronze-paixão da tua pele...
O sorriso infantil do guerreiro,
teus olhos cor de mel: o ar imbele!...
Eu te busco - onde?! - meu sedutor matreiro!...

Mas viver assim não tem nem graça!
Ainda bem que é só devaneio!
Tua presença é o meu bem, meu esteio
- tua não-existência seria a desgraça!

Tu sorris, senhor do meu amor?!...
Te divertes com estes meus receios?!...
Mas, conheço também teus anseios:
sei que tu não passas sem o meu calor!

Brinca tu, por tua vez - sonso belo!
Que sumisse esta tua cativa!
Tenta ver a tua vida festiva:
seria fendida, como com um cutelo!...

Mas basta de drama mexicano!
Longos anos perdidos com isso!
Vem! Me envolva num abraço insano,
que nos torne um só! Um eterno feitiço!...


A você, com amor,
(1986)



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Christina Nunes
Enviado por Christina Nunes em 26/09/2006
Reeditado em 26/09/2006
Código do texto: T250111
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