POEMA PARA UMA TARDE MORTA

(para Ângela Vitória)

Desertam-se as calçadas.

Vez por outra alguém passa.

Quando passa vai sem graça

E por poucos é notada.

Cada qual parece ter

Uma ânsia, uma amargura...

Vai ausente de ternura,

Nada além consegue ver.

Dobram esquinas, cruzam ruas,

Parecendo todas loucas,

As que riem são tão poucas,

Suas faces são tão cruas...

Só os pombos se atrevem

A amarem-se nos galhos,

Já não temem os espantalhos

Pra viver onde não devem.

Faltam bocas pra sorrir,

Faltam lábios para beijos,

Todos passam sem desejos,

Nesta tarde em meu devir.

O que portam em seus egos?

A quem servem indo assim?

O mundo chegou ao fim

Pra que à vida sejam cegos?

Devias aparecer

Nesta tarde quase finda,

Como sempre, terna e linda,

Para o amor acontecer...

Vilmar Daufenbach
Enviado por Vilmar Daufenbach em 03/09/2010
Código do texto: T2476131