SEMEADOR DO DESERTO

Decerto é árido o deserto, só água de pedra, sede, areia, ardência,

E os cactus guardam dentro de si, a água líquida da sobrevivência.

Arenosa poeira, em tempestade, embaça além dos olhos da visão,

Faz projetar imagens, abstrações da mente, miragem, mera ilusão.

Decerto é hostil o moderno mundo, gente pobre, poder, demência,

E o homem guarda dentro de si, a senha, que ignora a sua essência.

Alma pura, em conflito, perde-se além dos sentidos da imaginação,

Faz projetos concretos, abstem-se da sensatez, fantasia, mera ilusão.

Decerto o homem é bom, tem alma, coração, amor, fé e clemência,

E ambições guardadas dentro de si, armas perigosas da inteligência.

Vaidade, em intensidade, se esquece da simplicidade da sua emoção.

Faz seus castelos na areia, subtraído da razão, ilação, a mera ilusão.

Decerto o homem tem tempo de resgatar a humildade e a inocência,

E os sentimentos guardados, fraternos, puros, livres de maledicência.

Esperança, em evidência, que se lembre de ser solidário com o irmão.

Faça do deserto inóspito, o silo, para a semeadura da nossa salvação.

***Este poema é dedicado com muito carinho ao meu amigo querido, Felipe Padilha di Freita (o poeta do deserto), pela extrema admiração que tenho pela sua obra. O poeta, que deveria ter o cognome de “poeta do amor”, tem uma grande preocupação com as questões sociais, que levam o homem a desvirtuar-se da sua espiritualidade e perder-se no concreto, na materialidade das suas ambições. Para quem ainda não o conhece, eu recomendo seus textos admiráveis.

Celêdian Assis
Enviado por Celêdian Assis em 16/08/2010
Reeditado em 02/03/2011
Código do texto: T2441306
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