Mulheres negras de Jaci

Passo-Fechado, mas caminho sozinho

Na estrada que saí do Quenta-sol.

Medo abobado tenho aqui,

Por causa do Curupira, Lobisomem e de saci.

Cabelo pixaim: meu avô cortou do lado.

Ninguém liga pra mim, á vezes, ando pelado.

E fico desengonçado com embornal

No umbigo atravessado.

Sou assim.

Mais que, as mulheres negras de Jaci.

Sem a dor invisível; sem o cansaço do ébano;

Sem a dor da poeira que se ganha de andar no sol.

Olhos esbranquiçados, altas e sem corte.

Sem as curvas que as mulheres têm...

Sem medo de canseira e,

Sem besteira de culote.

Na dor do meio-dia sentem desprezo...

Porque o minuano não passa?

Quem sabe o Levante virá de tardezinha...

O que passa, é só carro de boi.

Peguei um que gemeu cansado.

Nem notou que eu estava na rabeira...

Vai lá para Nestlé.

Com tanto leite; o que será que vão fazer?

Vamos briosa!

Vai malhado!

Geme-geme no estradão

Acho que fiquei cansado.

Vai andando por ai afora

Acordando o pai Nau, Tia Izidora,

Mãe Joana, mãe Gilda, avó Venância

Pai Joaquim e Tia Sebastiana.

Que a lua esta azeda.

Chupou cana no canavial...

Tanto café que vejo na ESAU.

Café-bom, café-casca, café-bóia.

Gabiroba, amora e ata.

Jatobá, jabuticaba.

Araçá...

Sei de tudo que estava lá.

O dia vai acabando...

Os de Jaci estão voltando.

Feixe de lenha na cabeça.

Enxada e cara cansada.

Vão rezando, as rezas do divino,

Igual as das Congadas.

Sou menino... Como podia saber?

Rezo quando crescer.

Agora nem dá mais pra entender,

O porquê de nunca poder esquecer,

Mas pra Lavras não volto mais.

Não têm mais ouro em Minas Gerais.

Tudo se passou...

Nada esta mais lá e estou aqui.

Hoje, quando o sol fica a pino

Lembro que um dia já fui menino

Que não tenho mais medo

Daquele caminho assombrado.

Segui o caminho que tinha de seguir.

Segui as mulheres negras encantadas de Jaci.

De Magela

DE MAGELA POESIAS AO ACASO
Enviado por DE MAGELA POESIAS AO ACASO em 02/07/2010
Código do texto: T2353980
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