El Ramón*
decidi conversar com o Ramón
estava ele ali sobre um tronco
à sombra pequena de uma árvore
a calça verde puída num dos joelhos
a barba mal feita e o bigode não aparado
só serviriam pra realçar na indefectível tez
latino-americana-morena
o rosto do belo homem que era
teria certamente lugar nos filmes da MGM
por certo astro da Cinecittá, Felini o escolheria
para uma de sua películas destinadas
aos aplausos da inteligentsia ipanemense
configurando-se o que já se sabe – nada além de consumo
(o sumo do homem onde está?)
é a isso que o físico serve
mas ao que serve a alma?
acho que não adianta, Ramón
a luta não se acalma
sempre há de faltar o que combater,
o que lutar, o que merecer
a não ser que houvesse muitas almas
como a sua, no meio das exigências
exacerbadas, da picaretice, pelo que é mais fácil,
mais lúdico, proveitoso e garantido
não adianta ficar iludido
porque esse dia não chegará
afinal, todos temos que brilhar
até que a luz se apague,
de preferência sem que se pague
com o sangue nosso pra isso
ninguém será tão submisso
como poucos que nem você...
*como era também conhecido o inesquecível Comandante Che Guevara