Libertino- Homenagem Póstuma para Lorde Byron
Afaste - de mim este crânio encardido,
Este cálice de devassidão e libertinagem,
Tu foste nobre. Mas de alcunha maldito!
Da tua família a volúpia era linhagem.
Contudo, perdeste da nobreza os baluartes,
No fervor das orgias em sujos lupanares,
E na poesia transcendeu as várias artes,
Na tragédia destrutiva dos sagrados lares!
Dourou a fronte! Em insesata languidez,
No fervor dos seios róseos das donzelas,
E requeimou-lhe o peito na embriaguez,
Nas cantilenas das sextilhas tão belas!
Morreu! Como a estrela solitária e anã,
Entre as covas dos gênios esquecidos,
E tua história é à sombra de dom Juan,
Dos túmulos e epígrafes enegrecidos...
Ah! devoto noturno, era por ti que sonhei,
Na dor que devorava as noites do milênio
E nas lágrimas de Childe Harold suspirei,
Morto! No vôo do fervilhar de um gênio!
Meu amigo, que a terra não lhe pese,
Como os féretros e as vestes da mortalha,
E que o Diabo, no teu renascer reze,
Para perdoar-te o viver de um canalha!
Creio que ainda riste da tua própria sorte,
Quando do naufrágio viste apenas o fanal,
Mas no sepulcro, na solidão a alva morte,
Das escunas navegaste com a pequena nau.
Tu foste o ideal, a epígrafe de um momento,
Poeta de um século, de obras literais,
A epigênese do caos, o trovador macilento!
De cantos e experiências imortais!