MATER
9/05/2010
A devoção, o fervor, a súplica galgaram a íngreme
montanha do medo; onde tudo repousava, árido, estéril,
[desolado.
O embrião sonhado no ventre, tantas vezes vingado
no nada, natimorto, imaturo, jazia envolto ainda nas gases
[do tempo infecundo.
Nenhum espanto, nenhum pranto, nenhum riso ainda.
Apenas o silêncio estendia sua pesada mortalha até os
[confins dos mundos.
A vida não encontrara ainda seu justo receptáculo.
A exata medida de sua potência.
O Universo, apenas concebido, da miraculosa comunhão
dos elementos forjado, ameaçava desabar no caos
[primordial.
Foi aí que surgiste, Mãe, das mãos de Deus até ao cerne
[pulsante.
Para seres então o Princípio, quando o germe ainda inconta/
minado pela fera determinação da forma, apenas em si
cabia, numa abstração de mundo.
Teu invencível amor, na cápsula estática de um tempo
sem tempo, foi simplesmente sossegado pressentimento.
A sonoridade de tua floração, amorfa e obscura, foi
o iniciático extravasar de um sol sobre paragens inaudíveis...
Surgiste, Mãe, das mãos de Deus, e tudo o mais se fez.