GUERRA FRATRICIDA
Foram tantos os gritos,
e os olhares tão aflitos,
perdidos entre corpos e balas.
As vozes em tristes falas
ecoavam pelos detritos
de uma guerra fratricida.
Foram tantos os soldados,
infelizes e cruéis armados
para dizimar irmãos sofridos.
As rezas para os feridos,
os sinos sempre tocados
sob uma guerra fratricida.
Foram tantos os horrores
dos fanáticos dominadores
sobre os crentes injustiçados.
Dos conselhos os predicados
ante os sonhos e as dores
de uma guerra fratricida.
Pajéú, Abade, Macambira,
um povo só e sua ira
desvelada a sangue e fé.
Pedra e espinho, olho e pé,
a caatinga que conspira
numa guerra fratricida.
Pobres almas sertanejas,
vagando em suas pelejas
do passado e do presente.
No corpo o sangue quente
das desditas, das invejas,
filhas da guerra fratricida.
Fogo, água e fome,
uma história que consome
três cidades e seus viventes.
A esperança que vem e some
e os vestígios de uma ferida.
Canudos: guerra fratricida.
R. Dantas
Dezembro/06