Escrito A Lápis
Hoje li poemas, teus poemas
Como se fosse o Pitanguy
Fiz uma plástica nos versos
Nesse estava faltando uma
Rima branca. Amar deveria
Rimar com saudade esse afã
Solidão com praia, os sentidos
Com certa bendita piração.
Aterrei na pista de pouso
Do teu corpo por escrito
As linhas como se fossem
Gramíneas suadas pela aura
Da manhã. Poeta amador
Achei que aquele outro verso
Precisava de uma vírgula
Depois da palavra felicidade
Um momento de sonho
Tão simples como um largo
De Igreja. Onde não há nenhuma
Proeza, mas a sensualidade
Obediente de um ente com asas
De anjo querendo voar através
Das palavras. Mas pra que esse
Mar aqui nesse lugar, por que
Não rimar com inútil paisagem?
Risquei a palavra flores no caminho
Desse verso rimado. Substituí pela
Coisa mais singela que existe
A beleza que permanece no reverso
E a esperança de achar a harmonia
Nessa velocidade do verso.
Como um barco a velejar numa tarde
Solar, a navegar pelas ondas mornas
Na longitude longa do horizonte
Longínquo, mudei o adjetivo
Antimusical, lento, por outro menos
Sereno. Achei o compasso meio monótono
E quis marcar um tento substituindo
A musicalidade sossegada pelo ritmo
Desafinado de minha rolleyflex
Afinal, como diz a canção
No peito dos desafinados
Também bate um coração.
O mar e toda essa inútil paisagem
Estou a substituir por esse caminho
Aberto pela palavra sem asas
Que insiste em voar com os pés
No chão: esse som de solidão
Suprimi por esse outro
Tão desigual a você
Ainda assim acho que ficou
Melhor essa idéia de viver
Depois de todas essas correções
Voltei outra vez para a praia
Nem quis mais lembrar
A sonoridade daqueles versos
Ficam por sua conta. Afinal
Essa poesia é sua. Viver é como escrever
Como bem quiser. Que direito
Tenho eu de dizer que esse enunciado
É melhor ou pior pra rimar com você?
Mas eu estaria mentindo se dissesse
Que estou satisfeito com esse seu jeito
De escrever. É preciso dizer a verdade
Que ninguém quer ver: ah se todos
Escrevessem e fossem no mundo
Iguais a você