SILHUETA DE MULHER
Hoje nasceu um sol sobre o mesmo dia de sempre e
a mesma sobrenatural força da manhã me levantou de mim.
Atrasada olhei a minha volta e a vida me esperava. Seis horas.
Então rezei a Ave-Maria.
Borrifei uma água na pele, escovei os dentes, ajeitei os cabelos.
Sequer tive tempo de me olhar, embora saiba que o tempo não desiste de olhar para mim ....
Porém não havia nada de heroísmo na minha rotina de todo dia.
Saibam, honestamente ninguém premia rotina alguma!
Passei os olhos pelo jornal, abri a janela.
Sorvi um café às pressas e olhei meu relógio de pulso.
Sai correndo.
-Manhêee...
Era só mais um lembrete de que, depois de mulher, nunca mais somos donas das horas.
Liguei o motor de arranque e parti para a vida quase arrancada dali.
Cheguei na hora em ponto!
Disse bom dia.
Paguei as contas, ouvi, reouvi, resolvi, escrevi, sorri, eterneci e não me perdi. Também não pedi nada a ninguém. Apenas cumpri tarefas.
Comprei comida e sabão em pó.
Paguei a mulher que me ajuda, porque inclusive as mulheres precisam de bravas mulheres!
Abasteci o carro, calibrei os pneus... e a alma.
Tomei um gole d'água para espantar a sede.Todas elas.
Respondi meus mails.
Ganhei um presente e sonhei. Sob o cair da tarde, viajei, fui a Londres e voltei, nos traços leves dum forte nanquim.
Não parece, mas quando o cansaço abate é a névoa da saudade que aconchega.
É noite.
Tomo um banho quente, e acaricio minha pele com creme hidratante.
É preciso lembrar que todas as peles precisam de carinho.
Olho no espelho...e algo de familiar demoro a perceber.
Na penumbra da noite que vem...
Despede-se o meu dia que já se foi, sem me enxergar.
Tênue silhueta de mim...
Aonde de repente-e ainda!-me vejo MULHER.
A todas nós mulheres, de todos os jeitos, de todos os tempos...de todas as horas.