A PRAÇA

Hoje estava lembrando daquela singela música que ouvíamos no passado: 'Na mesma praça, no mesmo banco, nas mesmas flôres, no mesmo jardim/tudo era igual..." . Praça, para mim, é sinônimo de vida interiorara. Não porque não existam praças nas grandes urbes, mas porque não são tão valorizadas como nas pequeninas cidades do interior, já que por ser um ponto central de destaque na cidade, é ali que se reúnem os jovens no final da tarde de domingo para se divertir e para namorar. Nas cidades grandes parece que essas praças não servem pra nada, a não ser para acolher grupinhos de viciados etc. Entretanto, as Prefeituras Municipais (das cidades de pequenho porte) sempre estão atentas para esse local, por se tratar de um local de domínio público de grande paixão popular, onde as pessoas podem circular sem obstáculos, já que essa localidade sempre possui grandes árvores, bancos de descanso, flôres, fontes luminosas e outros atrativos.

Moro hoje numa Capital, onde existem muitas praças, entretanto, não sou capaz de perceber os detalhes de nenhuma delas,talvez a única que tenha destaque é aquela bem do centro da cidade, pois ali circulam pessoas estranhas e vendedores ambulantes que a usam apenas como um ponto de venda, sem se importar com suas belezas naturais. Nunca parei para olhar suas árvores e seus encantos. Entretanto, isso serviu para embalar-me pela nostalgia e um sentimento distante tomou conta de mim, que me faz refletir, lembrando que as praças interioranas parecem mais bonitas e mais marcantes na vida da gente. A explicação para esse sentimento repentino é porque me lembrei na praça central da minha cidade interiorana, onde vivi boa parte da minha infância, pois era naquele cantinho sombrio e aconchegante que fiz minhas "artes" de adolescente, com brincadeiras das mais diversas espécies. Entretanto, o que mais me atraia eram as traguinagens feitas à duas rodas, com as famosas "magrelas". Havia um desafio implícito em nosso círculo que movimentava a adrelina da garotada, a partir das manobras visivelmente perigosas que eram executadas nos labirintos das calçadas, fazendo curvas a velocidades incompatíveis e até andando sob duas rodas numa mureta arredondada nas suas margens.

Fora essas lembranças das molecagens, o que mais me lembro são das suas frondosas árvores, muitas escassas em nossos pagos, já que foram adquiridas numa linhagem européia, do tipo pinheiros de Natal, que se tranformaram em abudantes folhagens esverdeadas e miúdas, com cheiros característicos que se entranhavam no ambiente como uma seiva aromática que se impregnaram nas minhas narinas, tanto que neste momento - depois de tantos anos - ainda as tenho nítidas como um perfume a me embalar nas lembranças. Seus bancos feitos de puro cimento trabalhado, com desenhos múltiplos, lembram os momentos de descanso, quando me sentava extasiado e com "coração na boca' depois de uma correria desenfreada, após uma brincadeira e muita algazarra. Aquela praça era a saúde pura que se instalava no meu sangue, que pulsava em minhas veias como serpentinas de emoções e que me enchem de saudades.

A ti, praça querida, dedico minha poesia:

Oh, praça tão querida! Você foi um pedaço de minha vida.

Quando visitei minha cidade - há algum tempo atrás -

Meu primeiro desejo foi visitá-la.

Vê-la ativa e lembrar que em certa feita depositei

sobre a cabeça de Valêncio Brum (busto) um boné de soldado,

representando a figura daquele condado.

Acho que rebaixei a patente da história.

Mas é a que me lembro,

de tudo que foi plantado em minha memória.

Algo que permanece presente.

Pois sua imagem não sai do pensamento.

Vivo lembrando desses doces momentos.

Vividos com os ares da minha juventude.

Volvida pelos gestos de meninice, que beiravam a sandice.

Agora só restam as lembranças das loucuras e de tanta travessura.

E foi você praça querida, quem deu guarida a tantas brincadeiras

que sobrevivem em mim como uma realidade.

Tudo vem em forma de saudade.

É porque você existe nessa cidade, onde vivi.

Foi aí que cresci e me alegrei e também sofri.

Até mesmo o nosso Panduí onde me banhava.

De ti também lembrava.

Depois que teu suor me incomodava.

Saia com a "magrela" a toda velocidade, saindo fora da cidade

e ia faceiro encontrar as águas.

Depois voltava correndo, atravessava sua calçada reta,

até encontrar minha rua que lhe avizinhava a periferia.

Chegava em casa alegre de tanta folia.

Dormia um sono profundo até amanhecer o dia.

Logo cedo lhe comprimentava, pois ao seu lado passava.

Ia para a escola e lhe acenava!

Assim, não tem como esquecê-la,

pois você frequentava minha vida como ninguém.

Vivo com ciúme de alguém.

Porque você hoje ainda vive

embelezando outros olhos que se enfeitiçam.

Que criam raiz com a sua imagem.

E fazem versos nas suas paragens.

Pois entre uma folhagem e outra

há um binóculo que mostra o Céus.

Alguém olha atento e vê as estrelas

que lhe iluminam numa noite escura.

E todos conseguem ver sua ternura.

Ambos partilham o silêncio de sua formosura.

Oh! lua tão bonita!

que se esconde no crepúsculo

das suas tardes de inverno.

Aparece com todo explendor.

Vem lembrar meu primeiro amor!

Foi nessa praça que a conheci.

Eu tinha cara de guri.

Foi um amor de estremecer.

Que perfurou até o amanhecer, numa noite mal dormida.

Após a triste despedida.

Hoje é só imagem adormecida que arde e

que só existe em forma de saudade.

Machadinho
Enviado por Machadinho em 11/02/2010
Código do texto: T2081279