Poesia ao tempo
Nas veredas dos dias o velho som,
os mesmos acordes de uma era,
repetidos urros da mesma fera,
o tempo, com seu infalível dom.
Não adormece em ruínas antigas,
antes, de tudo que vive é o odor,
é frio da morte e o presente calor,
as naves do céu, e as velhas bigas.
Mostra-nos ao dia seu perfil,
quando o espelho diante de nós,
os sulcos da face de maneira atróz,
ao cruel destino impõem como redil.
O seu céu nunca, jamais escurece,
seu canto eterno, supera a eternidade,
nos olha desde a mais tenra idade,
até que recitemos aqui a última prece.