Em algum lugar, de Cabul ao Haiti.

Em algum lugar, por aí

de Cabul ao Haiti

Rastros de tantos astros

Marcos de tantos anônimos

Outrora nativos,

Escravos, colonizados

Em algum lugar, por aí

de Cabul ao Haiti

Meninos de pés descalços

Jogos da vida, per-calsos

Tormentas, tornados

Destruição, terremotos

Em algum lugar, por aí

de Cabul ao Haiti

Rotas de conquistas, riquezas

Sobras das festas, pobrezas

Restam conflitos étnicos

Omissão, desamparos

Em algum lugar, por aí

de Cabul ao Haiti

Velhos desamparados, olhares perdidos

Espelhos embaçados, olhares indiferentes

Nos destroços, corpos esmagados

Nos fundos, dólares especulativos

Em algum lugar, por aí

de Cabul ao Haiti

Somente uma tragédia deste porte

Pra ter atenção pra gente de Porto Príncipe

Os olhares do mundo pós-Colombo

Se voltam pras terras abandonadas do novo mundo

Em algum lugar, por aí

de Cabul ao Haiti

Caminha a humanidade

Vizinha da insensibilidade

Se espanta a iniquidade

Se se aflora a solidariedade

Em algum lugar, por aí

de Cabul ao Haiti

Ai de quem chora pelas vítimas

De mais uma revolta das forças naturais

Ou das bombas lançadas diarimente no Afeganistão

De Porto Príncipe a Cabul, em uma fração...

de segundos,

o que restam?

são corpos estraçalhados

em meio aos escombros...

AjAraújo, o poeta humanista, homenagem às vítimas do abandono e da tragédia, de Cabul a Porto Príncipe no Haiti, seja na crueldade da guerra urbana cotidiana seja pela ação das forças da natureza. Escrito em 14 de janeiro de 2010.