SONHO DE REVEILLON
Sua tez é negra.
Negra de gen
Negra de sol,
Negra refém.
Do calor!
da dor!
quiçá de escasso amor.
Seus negros pés
dos anos calejados
já nem sentem as rochas ...
São suados
-e ainda abnegados!-
predestinados à areia quente.
Quando o mar lhes roça,
é quando se refrescam de carinho.
Uma vida dura,
que às vezes se ilumina
no emergir da lua.
Alva e cheia,
Já horizonte nos clareia
A lhe encorajar o cansaço,
a me eternecer o sentimento.
No meu verso então lhe ecoa
um grito de lamento...
Quase meia noite...
e ele se deita na areia,
a buscar o encanto da sereia.
E o mar quebra forte sobre a rocha.
Rocha quente, rocha de gente!
Sua tez ...
-que entre as ondas se ajeita
ainda é mais negra.
De sol e de gen!
Mas não é mais refém.
Agora sob um céu de estrelas
-no doce canto da sereia,
sonha que amanheceu
um novo dia.
Sobre a mesma areia,
um novo ano se aproxima...pelo mar...
A quebrar forte sobre a rocha...
rocha quente,
rocha de gente.
Em homenagem ao ambulante das praias.
BA, Reveillon/2010