Quer dizer que virá mesmo assim?
Virá ceifar algum último sorriso
Calar ainda uma última palavra
Tornar mistério o que ainda ia se pensar
E virá para todos e qualquer um, para mim?
E deverá vir e quando vier será assim
Sem a menor sombra de dúvida e sem nenhum aviso
Virá de improviso, uma aparição no momento preciso
E haverá de ser, de tão derradeira, única
A única solidão, o único abandono
O último e absoluto silêncio...
A luz que volta à escuridão
A terra que cobra o que fez brotar
O começo do desconhecido
Talvez no fim de tudo o início de nada
O enorme alívio para quem parte
E perpetuação do mistério para quem fica
O que era, o que foi, o que seria...
O que leva e o que deixa...
O que se faria com um pouco mais de tempo
Consertar talvez tudo que se quebrou
Colher o que se cultivou aqui para seguir em frente
Como se farão as lembranças
Como se evitará a saudade
Como haverão de lhe pronunciar o nome
Nesse fim da história de seus dias?
Agora que é apenas uma noite que não termina
Em que o silêncio pesa acima de tudo
E acima de tudo paira o mistério de tudo que é último
Todo o mistério desse último e absoluto silêncio


Não tenha pressa, temos tempo, todo o tempo do mundo
Iniciemos mais uma partida antes da partida...
Peão quatro do Rei!


(16/09/2009, dia da morte do pai de um grande amigo)
Marcos Lizardo
Enviado por Marcos Lizardo em 26/12/2009
Reeditado em 28/08/2021
Código do texto: T1995949
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