Cotidiano do pescador
O pescador teimoso sai ao sol raiar
Não se aflige com o frio, a tempestade, o mar.
Com o seu corpo esguio, já surrado pelo tempo;
Acomete a sua amiga e velha jangada
Sobre as ondas revoltas. Sobre a esperança.
Leva ele consigo votos dadivosos
De mares e dias melhores. De pesca promissora.
Já não tem a mesma destreza de rapaz;
Mas conserva a experiência de um ancião.
Frisa-se em seu rosto frigido pelo sol,
Cicatrizes demarcando-as como mapa.
Conhece os caminhos dos oceanos;
Das marolas, dos marouços, dos balanços.
Conversa com as insistentes gaivotas...
Briga com as redes incógnitas...
Não se dá por vencido... Tenta novamente!
Em cada nova investida, uma expectativa.
Cantarola uma canção... Faz várias preces.
Agradece a Deus pelo o peixe conseguido.
Retorna feliz rasgando o mar bravio,
Enfim enxerga ao longe a terra firme.
A sua amiga praia lhe espera espumante,
Como que sorrindo ao vê-lo vivo.
Os dois sabem que amanhã de manhã.
Será um novo dia! Uma nova esperança!