CORDEL PRA NARA LEÃO*
Deu no jornal, e um vazio
inundou-me o coração,
que a morte levou a grande
cantora Nara Leão.
A “musa da Bossa Nova”
fez da voz o seu canhão,
com músicas de protesto,
nos tempos da lei do cão.
Lá pelos anos sessenta,
nos “Festivais” da canção,
a pequena e grande artista
era estrela na amplidão.
Cantora de “Carcará”,
brilhou com “Opinião”,
foi sucesso com “A banda”,
mas curtiu até prisão.
Por ela, Manuel Bandeira
pediu que houvesse perdão,
em versos que publicou,
tanto lhe dava atenção.
O Brasil todo clamara,
também, a libertação
daquela voz argentina,
no contexto gris de então.
De repertório seleto,
nunca fez muita questão
de primar por quantidade,
mas cantou por seleção.
Entre a fina-flor da Bossa,
Nara, por resolução,
só gravou compositores
e letras de alto padrão.
Mulher bonita, na arte,
saiba o jovem deste chão
que ela, no rádio, não toca
face à grande ingratidão.
Vinte e três discos gravados,
sua amarga solidão,
ela partiu, sorrateira,
alguns sem recordação.
Tímida, sorriso triste,
abraçando o violão,
lá se foi nossa artistinha
para a geral comoção.
Hoje, quando já se vota,
e nos corrói a inflação,
ter memória dá saudades
da voz de Nara Leão.
Mas, inspirado, o Vinícius
compôs, por certo, a canção
que ela, no céu, vai cantar
pra Deus ouvir, com emoção.
(08/06/1989)
Fort., 11/10/2009.
(*) Nara Lofego Leão (Vitória, 19 de janeiro de
1942 — Rio de Janeiro, 7 de junho de 1989) foi
uma cantora brasileira. O título de "musa da
Bossa Nova" foi a ela creditado pelo cronista
Sérgio Porto [FONTE: W i k i p é d i a].