Tributo a Bocage
Por cá andaste em tempos de crise...
não obstante a corte se banhasse em ouro
e o Marquês encetasse radicais reformas
O teu olhar arguto, condoído e satírico
fazia da pena a arma de um povo,
hostilizado e faminto, bramindo a impotência
E tu poeta, detentor de tamanho talento,
no pleno uso da tua audaz eloquência
denunciavas e muitos incomodavas
com o teu cunho de maledicência.
No lirismo dos teus etéreos e luminosos versos
exaltaste a candura e beleza dessas Musas,
recatadas e púdicas donzelas que inspiraram
e atormentaram o teu prazer boémio e devasso
Em teus caminhos sinuosos e censurados,
pela lâmina contestatária da dialéctica,
estendeste a Língua Pátria aos confins do Oriente.
Emotivo, arrebatado, precário nas relações,
corolário do seu fado, ignóbil destino,
apologista da solidão maltrapilha e indigente,
em clausura pelo sistema e Inquisição,
amante devotado da morte pela libertação...
Tu que nos honraste e cresceste no soneto
Seja teu espírito livre de opressão!