CORAZ

CORAZ

(II) Um preito à poetisa goiana, Cora

Coralina.

Em cada portentoso vitral,

Em cada espaçoso quintal,

Um mormaço... um vento leve

Fazendo poesia nas folhas caindo.

– Venha, venha, vento mandrião*,

Correr com as folhas secas do chão!

O límpido veio da fonte,

O grosso madeiro da ponte.

No beco acolhedor e estreito

Passa uma Aninha sem jeito

Em cada canto de muro,

Em canto fruto maduro,

O cheiro da fruta no chão.

O calor de Goiaz, braseiro,

Amadurecem seus frutos primeiro

Do fogão à lenha cortada,

À rapadura na palha guardada,

Clama um tacho areado de cobre.

Por tudo que isso encerra

Faça pra mim, ò doceira nobre,

O doce da laranja terra.

No velho tacho fervente

Sob a ação da lenha ardente,

Borbulha a calda e respinga

No areado do cobre quente.

Do divino cerimonial,

Da ponta afiada da pedra,

Do milho viçoso que medra,

À colheita festiva outonal,

Tudo, tudo, rememora,

A doce face de Cora.

* folgado.