Mortis causa
Rios de lágrimas
escorrem pelas faces
unidas pela dor
nada pode se igualar
ao revirar das páginas
cruentas fases
cinza quase incolor
a nos solapar
Como explicar
a dor de uma viúva
a lágrima da orfandade
saudade batendo no peito
à mãe resta chorar
incontida ou miúda
não conta idade
suas razões e tais
Os olhos olham
tão de perto o infinito
que se deixassem, o tocariam
com quase intimidade
Mas apenas choram
um lamento, um grito
que se pudessem espantariam
a dor dessa já saudade
Titubeantes caminham
firmes como barcos sem portos
estrelas cadentes sem brilhos
brisa em noite tímida e fria
corações se aninham
choram seus mortos
mães, sobrinhos e filhos
numa saudade pia
A noite quase fria
espia o sofrimento
e toda lágrima vertida
desse coração amargurado
que agora torturado
busca uma guinada
abraça com sentimento
essa vida agora vazia
Meu Senhor Jesus
é leve essa cruz
mas como dói
como corrói
Meu Jesus Senhor
meu Consolador
A vida se esvazia
numa fria madrugada
cheia de solidão
carregada de dor
enquanto da vida sai
a alma conjugada
em tempos de paixão
em tempos de amor
Agora o que resta
nesse peito vazio
é uma saudade
um amargo arrepio
O que vai ser
quando amanhecer?
O que mais vai doer
saber ou esquecer?
02/05/2009