Poemas portugueses I

de Edson Gonçalves Ferreira
para Miguel e Malubarni, Susana Custódio, Zé Albano (meus
anfitriões em Portugal) e para Dulce, Edyth, Isabel, Alexa,
Abílio, Tereza Maria Guedes, Joaquim Evônio e todos os poetas
e leitores do Recanto

I
Minhas palavras, azulejos
Formam um painl dourado
As paredes é meu coração
Aberto em vários salões
Prontos para tu entrares....

Em um deles há lugares
Semazulejo algum
Ainda não consegui os preciosos
Será a sala do aguardo
Onde, quando tu chegares,
Esperarás ser atendido
Na longa fila dos amados
Meu coração nomeia gente assim
Esplendorosa com tu

Saibas que, até agora, não registrei
Com meus olhos tristes e mouros,
Em nenhuma das paredes, as saudades
Dos jovens que, daqui, partiram
Em caravelas a sonhar
E me dar a vifa e fazer
E fazer de minh´alma vela panda
Soprada por este vento doce
Que do Douro vem
Como carícia tardia
Embalar meu ser
Caravela à deriva
Procurando porto.

II

Se sou marinheiro?
Não, não perguntes, nem eu sei
Sou apenas um menino crescido
A embalar sonhos
E, se aqui cheguei, só vim por causa dos amados
O incontrolável amor trouxe-me de lá
Onde canta o Sabiá
Percebi o pardal que sou
Perdido no meio das maravilhas modernas
Querendo ninho, pousado, melancólico
Num fio qualquer das avenidas e ruelas
Onde, um dia, dois jovens brincaram
Brincaram de sair pelo mundo
Sem saber que, depos,
Um moço de tardia esperança
Voltaria nos passos deles
A buscar aconchego
Embalado por fados com guitarras dolentes
À sombra das antigas muralhas
Restos de um passado
Que minha alma segura.

Meu canto nem triste nem alegre
Só canto persiste
Ultrapassará o meu passar
Esse pardal, contudo, não se cansa
Reconhece a sua pequenez
Sabe a grandiosidade dos sonhos
A nortear seus vôos
Acompanhado por outras aves amorosas
Que, abrindo seus ninhos,
Tornaram possível a procura...

Louca, louca ave
De plumagem tão singela
Essa avezinha cruzou o Atlântico
Pousou cá onde as aves gorgeiam lindo
Jamais, jamais como as de lá
Onde canta nosso irmão, o sabiá
Relebrando tudo o que machuca
O pequenino coração
Do pardalzinho apaixonado...

E, agora, na sacada encantada,
O pardal contempla a chuva
A molhar a terra amada
E sabe que a espera será longa
As aves, quando migram, deixam ninhos longe
E, ao voltar, jamais encontram
As mesmas flores, os mesmos amores
Tudo o que deixaram lá
Até parte da sua plumagem ficou na distância
Na distância do intangível
Assim, não gorjeiam mais com a constância
Desse pquenino padal
Avezinha atrevida
Ignorada por muitos
Pousada cá.

III

Pia, pia, pardal
Sua plumagem lembra Francisco
O rico pobre de Deus
Não tenhas tu a desilusão
Quando se busca o que se é
É impossível não encontrar
Os sonhos não se perdem
Quando embalados são
Por um amor desmedido
Pela humanidade toda...

E, assim, ao passar nas margens do Douro
Reconheça que as águas são como espelhos
Móveis espelhos onde Deus nos contempla
E conduz nossos anseios e esperanças
Então, voa, voa, pardal,
Continua a tua busca
Mesmo com a incerteza
De nunca mais encontrar
Pegadas dos que partiram de lá
Oh, quão distante estás!


Vila Nova de Gaia, Porto, Portugal (em um dos computadores dos queridos amigos Malubarni e Miguel Teixeira), 23.07.09
edson gonçalves ferreira
Enviado por edson gonçalves ferreira em 23/07/2009
Reeditado em 03/08/2009
Código do texto: T1714472
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2009. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.