Ah!
Ah! é o medo que me consome
e que me guia cego por entre ruas e avenidas
na mais profunda solidão da metrópole.
Ah! é a ansiedade que me põe inquieta
e me faz soluçar por questões erradas
desacreditando qualquer indício de felicidade.
Ah! e o que dizer da música
que embala minh´alma...
Que me põe embriagada e muda
sem nem poder dizer o seu nome.
Ah! eu que quis tanto,
que desejei tanto, sofri tanto
e que já nem sei mais de nada,
que já nem sei o que pensar...
Ah! é a vida que me faz tola
e me embola em sua teia
de perguntas sem respostas
deixando-me enrijecida de tanto frio.
Ah! e eu sei que é tudo muito simples demais
e tenho que complicar com regras ortodoxas
o mais simples ficar ao seu lado.
Ah! e quando eu me perdoar
– sim, pois pedirei perdão a mim mesma –
sentirei a lança que machucava
meu peito se desprender.
Ah! e como serei livre: das injustiças, do temor,
da fala alheia, das verdades,
do pranto, do momento agora.
E serei já, somente já o que era
preciso ter sido ontem.
Dedicado à Susana Ferretti
Publicada no livro Viver: um jogo perigoso, de Márcio Martelli, Editora In House (2009)