Genial viagem
Dois corpos de tamanho muito diferente
Podem de longe parecer iguais
E de acordo com a posição de sua lente
O menor é maior, de modos tais
Que é possível até p’ra aquele mais descrente
Vivenciar algo que ele jamais
Imaginara
Assim entrei, sem precisar ser convidado
Na mente de um gênio de inteligência:
Nem diminuto, nem de tamanho aumentado.
E ele nem notou minha impertinência
Pois co’a imaginação, órgão bem treinado,
Foi que entrei pela via que a ciência
Me aconselhara.
Se digo inteligência, é por falta de termo
Pois este gênio, no aspecto moral,
Também estou longe de descobri-lo enfermo.
É dotado de ideias sem igual
Imprescindíveis para, valentes, vencermos
O mais soez inimigo mental.
E aí não para!
Que conhecimentos, em ordem todos!
Um profundo sentir humanitário!
Paciência com lentos, tolerância aos tolos.
Justas palavras tanto ao mais precário
Dos ingênuos quanto ao íntimo foro
Daquele que é menos deficitário.
Que joia rara!
Inspira-me demais sua sabedoria!
Quem me dera voltar de lá com parte,
Ínfima que seja, de sua alegria
Ou constância, p’ra me guiar na arte
De a mim mesmo criar. Até que chegue o dia
Em que da liberdade o grão ‘standarte
Bem alto paire.
A imaginação, que tem de guia a razão,
Prontamente do homem se despede.
Cria-me de um augusto futuro a visão
E proíbo que essa imagem me cegue.
Quero a consciência mandando, e o coração,
Centro de meu nobre sentir, alegre.
Grata viagem!