O PONTILHISMO
para o Valdez Oliveira Cavalcanti
Cissa de Oliveira
Eu tinha coisas possíveis para esse dia,
onde a labareda que consome a mesmice
não é mais do que uma chuva fininha:
um pecado infantil, com dúzias de bombons,
uma música de base plana,
própria para a ladeira íngreme dos dias
ou um poema estremecendo a folha branca,
caso eu falasse em ventania e jardim.
Um jogo de luz e sombra sobre a camisa,
a toalha e os guardanapos, impecáveis
como rosas brancas distribuídas em taças:
nada mais houvesse naquela fotografia,
e eu ainda poetizaria
o pontilhismo tríplice do tempo
que nada no poço profundo de um olhar.
Talvez invente a noite
de manhã.
17.04.06